Gol (GOLL54) salta 1886% em estreia de novo ticker, mas alta não é o que parece

Por Beatriz Rocha

12/06/2025 | 18:52 Atualização: 12/06/2025 | 18:52

Avião da Gol (GOLL54). Foto: Adobe Stock

A Gol (GOLL54) teve um dia importante nesta quinta-feira (12). Hoje os papéis aram a ser negociados com um novo ticker (código de negociação do ativo) e com um lote padrão de 1 mil ações, o que mexeu em suas cotações. No final do dia, as ações exibiam alta significativa no preço de tela: um salto de 1.886,37%, sendo negociadas a R$ 204, depois de arem por diferentes leilões por oscilação máxima permitida.

O movimento surpreendente está relacionado ao aumento de capital de R$ 12 bilhões da empresa, com emissão de novas ações preferenciais ao preço de R$ 0,01 cada. De acordo com os cálculos do BTG Pactual, a operação, que envolve a emissão de 1,2 trilhão de ações, resultará em uma diluição acionária significativa, na ordem de 99,8%. Devido a essa alta diluição e à alavancagem ainda elevada da companhia, o banco recomenda a venda dos papéis.

Welliam Wang, gestor de fundos de ações da AZ Quest, explica, na prática, o que significa essa diluição. “Numa situação hipotética, se alguém tivesse 100% de participação na Gol, depois do aumento de capital isso seria reduzido para 0,2%, por causa do tamanho da oferta”, afirma.

Leia mais: Ações da Gol disparam mais de 300% na estreia dos tickers GOLL53 e GOLL54 e diluição acionária

A partir desta quinta-feira (12), como mostramos aqui, teve início a negociação dos papéis com o chamado direito de preferência. Ele acontece quando uma empresa decide colocar mais ações à venda na Bolsa de Valores. Nesse caso, ela é obrigada a dar preferência de compra dessas novas ações a seus atuais investidores. A ideia é garantir a opção para que os acionistas possam manter o mesmo nível de participação na companhia.

Invista em oportunidades que combinam com seus objetivos. Faça seu cadastro na Ágora Investimentos

Hoje a Gol também estreou seus novos tickers — GOLL53 para ações ordinárias e GOLL54 para preferenciais –, além de ter ado a operar em lotes padrão de 1 mil ações. Esse novo lote ajuda a explicar o salto dos papéis, segundo Wang. “Na verdade, é como se o ativo tivesse caído, porque o preço a a ser múltiplo de 1 mil ações. Então, R$ 204 em tela, na verdade, são o equivalente a R$ 0,204. Como ontem fechou a R$ 0,80, é como se tivesse ado de R$ 0,80 para R$ 0,204”, destaca.

Ou seja, para entender o preço real da ação, o investidor tem de dividir o valor de tela por 1.000.

O gestor observa uma distorção no mercado, provocada principalmente pela falta de entendimento por parte de investidores pessoa física, que não compreendiam o que seria o evento de hoje nem seu impacto na precificação da ação. “Tenho visto uma certa confusão dos investidores nos fóruns on-line. Se a pessoa olhar o saldo, verá que está negativo, mesmo que exista essa alta artificial”, diz.

Na visão de Wang, os preços tendem a cair ainda mais ao longo do tempo, conforme corre o prazo de um mês para exercer o direito de preferência. O gestor também ressalta que, mesmo com a reestruturação, a alavancagem da empresa permanecerá alta. O BTG estima um patamar de 5,4 vezes, considerando a medição realizada pela relação do valor da empresa (EV) sobre o lucro antes dos juros, tributos, depreciação e amortização (Ebitda).

Leia mais: Como ficam as ações da Gol após o fim da RJ e o que esperar da fusão com a Azul?

Segundo Rodrigo Vignoli, sales de renda variável da InvestSmart XP, um dos principais pontos de atenção agora é o risco de diluição extrema para os acionistas que não exercerem seus direitos de preferência, cujo prazo final é 14 de julho. “Estima-se que, caso não participem da oferta, a diluição poderá chegar a cerca de 99%, praticamente eliminando a participação original dos investidores minoritários”, afirma.

O cenário permanece desafiador para a companhia aérea. Essa transição, segundo ele, abriu espaço para operações especulativas no curto prazo, mas os fundamentos da empresa ainda enfrentam pressão. “Diante disso, é fundamental que os investidores acompanhem de perto o período de preferência na oferta e avaliem cuidadosamente sua participação para evitar perdas significativas por diluição”, destaca.

Quem tem uma visão mais positiva é Fabio Louzada, economista, planejador financeiro e fundador da Eu me Banco. Ele afirma que, quando a empresa está muito endividada, emitir ações para captar capital e pagar dívidas reduz o risco financeiro. “Isso melhora a estrutura de capital e diminui a chance de insolvência, o que pode agradar certos investidores. Além disso, quando a Gol emite ações, o mercado interpreta como um sinal de que a empresa tem um plano claro para se recuperar”, pondera.