A Gol (GOLL4) apresentou, nesta quarta-feira (15), a versão revisada de seu plano financeiro de 5 anos. A medida deve servir de base para o plano legal independente de reorganização da companhia nos termos da recuperação judicial nos EUA, o Chapter 11. Para analistas ouvidos pelo E-Investidor, o anúncio é promissor para o futuro da empresa, mas não muda a visão pessimista sobre a ação da Gol, segundo os analistas.
Na visão de Felipe Sant’ Anna, especialista em mercado da mesa proprietária Star Desk, o plano de 5 anos da Gol parece bem estruturado. Ele lembra que a empresa está projetando o crescimento da frota em meio à falta de aeronaves no mercado, um grande desafio, sobretudo para uma companhia que está há tempos negociando com credores de aeronaves. A companhia aérea projeta o crescimento de sua frota para 167 aeronaves até 2029, ao mesmo tempo em que prevê investimentos na frota existente no curto prazo.
“Já a projeção de crescimento de demanda por agens aéreas da Gol dependerá, e muito, da situação econômica do Brasil nos próximos 5 anos, visto que hoje sofremos com a falta de credibilidade no cenário fiscal. Uma Selic mais alta, um dólar mais caro e a continuidade da crise na Boeing são desafios que deveriam estar no radar da Gol“, diz Sant’ Anna.
O plano revisado da Gol utiliza uma taxa de câmbio de R$ 6,04, refletindo o atual cenário macroeconômico. Para Artur Horta, especialista em investimentos da GTF Capital, esse é um ponto negativo, pois a empresa trabalha com o câmbio para 2029 abaixo de patamares já registrados em 2024, o que pode ser um problema para as questões dos custos da empres.
“A pior parte desse plano para o investidor é a questão da conversão de parte da dívida em ações da Gol. Isso deve causar diluição acionária dos que possuem o papel, o que deve impactar diretamente o investidor pessoa física. Além disso, mesmo após a diluição, o investidor ainda deve encontrar a companhia com um endividamento alto, por volta de 1,9 vez ao fim de 2029, o que mostra que a aérea não terá uma grande melhora nesse quesito”, argumenta Horta.
Já Gustavo Mendonça, sócio e especialista da Valor Investimentos, relata que mesmo com uma redução não tão expressiva, a empresa já projeta uma melhora, o que pode ser atrativo para o investidor. Ele relata que o aumento de 20% da frota com foco nos aviões Boieng 737, o que para ele deve melhorar a eficiência operacional da empresa.
Vale a pena comprar as ações da Gol?
O consenso dos analistas é de que o investidor deve ficar de fora do papel por diversos fatores. Felipe Sant’ Anna, da Star Desk, relata que a projeção da Gol para os próximos 5 anos é interessante, mas somente a finalização do processo de recuperação judicial nos EUA, chapter 11, terá o poder de destravar o preço do papel.
“As ações estão na casa de R$ 1,70: qualquer variação de centavos implica em uma alta percentual que chama atenção. O setor está sofrendo muito com dólar alto e já vem muito endividado desde a Pandemia, não me parece um “bom negócio” o aporte no papel nessas condições. Os desafios da empresa são maiores do que prevê o relatório, e o setor tem um péssimo histórico”, diz Sant’ Anna.
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Horta, da GTF Capital, endossa a visão do primeiro especialista. Ele diz que a questão da diluição acionária deve pesar. Na visão dele, para poder aportar na ação GOLL4, o investidor deve saber qual será o tamanho da diluição acionária, que ainda deve ser auferida pela empresa. “Se a Gol conseguir cumprir todas as questões da recuperação judicial até maio, a ação pode se tornar atrativa para o investidor. Caso a compra seja feita agora, as ações são uma grande armadilha devido à recuperação judicial”, afirma Horta.
Já Gustavo Mendonça, da Valor Investimentos, o papel pode ser um investimento de longo prazo, desde que o investidor se atente a questão da diluição acionária. Segundo ele, o plano da empresa parece promissor, sem considerar as questões macroeconômicas, que podem fazer com o papel saia um pouco da trajetória estipulada. Ou seja, o melhor é o investidor esperar, pois esse não é o melhor momento para comprar as ações da Gol (GOLL4).