Veja qual estratégia tática adotar em sua carteira em cenário de guerra entre Irã e Israel (Foto: Adobe Stock)
Os mercados globais e o Ibovespa estão em queda em meio à iminência de uma guerra entre Israel e Irã após Tel Aviv bombardear Teerã. Segundo o governo israelense, a operação tinha como objetivo paralisar o programa nuclear iraniano. O governo do Irã afirmou que Israel e Estados Unidos vão “pagar caro” pelo ataque, o que causou pânico nos mercados, com disparada de 11% do petróleo e salto de 22% do índice do medo na Bolsa de Nova York.
Segundo Acilio Marinello, sócio fundador da Essentia Consulting, o investidor deve ter muita cautela nesse momento, pois o fluxo de capital estrangeiro deve sair da Bolsa brasileira caso a guerra se confirme, trazendo prejuízos aos investidores expostos à renda variável. Ainda assim, analistas ouvidos pelo E-Investidor dizem ser possível separar o joio do trigo, e apontam quais empresas podem se beneficiar nesse cenário e quais podem deixar a carteira no vermelho.
Para Eduardo Nishio e Vitor Sousa, analistas da Genial Investimentos, a guerra no Oriente Médio deve gerar aumento de preços no Brasil puxado pela alta do petróleo, que pode encarecer o frete dos produtos e até dificultar a operação de empresas — como no setor aéreo, que pode ser duramente impactado.
“As aéreas Gol (GOLL54) e a Azul (AZUL4) possuem despesas atreladas ao querosene de aviação, o que faz com que a alta do petróleo eleve os custos da operação dessas empresas. Além disso, empresas com alta alavancagem, como MRV (MRVE3), Assaí (ASAI3) e Grupo Pão de Açúcar (PCAR3) também podem sofrer. Isso porque a alta de preços eleva a inflação, obrigando o Banco Central a subir a Selic, encarecendo a dívida dessas empresas”, dizem Eduardo Nishio e Vitor Sousa.
Já Artur Horta, especialista em investimentos da GTF Capital, explica que companhias do setor de transporte podem ser prejudicadas com a guerra devido à alta dos combustíveis, causando redução da margem de lucro. “As prejudicadas seriam a Rumo (RAIL3) e JSL (JSLG3)”, explica.
Jeff Patzlaff, planejador financeiro CFP e especialista em investimentos, diz que as locadoras de veículos também são afetadas tanto pela alta dos juros (devido ao financiamento da frota) quanto pelo aumento nos custos de combustíveis, fora uma possível retração da demanda de locação. Ou seja, esse também seria outro setor que o investidor deve evitar no momento.
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Matheus Amaral, especialista de renda variável do Inter, explica que segue com a recomendação de uma carteira diversificada entre os setores no País. O analista prefere aportes em setores mais defensivos, tendo em vista as condições estruturais ainda arriscadas no Brasil, em virtude dos anseios fiscais. “Por isso, preferimos os setores financeiro e de utilidade pública (saneamento e elétricas). Também optamos pelo setor de óleo e gás”, diz.
O consenso dos sete especialistas ouvidos pela reportagem é que as empresas de petróleo serão as mais beneficiadas. Marinello, da Essentia Consulting, diz que as ações do setor de petróleo estão amplamente descontas devido às quedas recentes e se a guerra estourar de vez, a commodity deve se manter em patamares elevados, gerando ganhos para essas companhias.
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Fernando Camargo Luiz, sócio da Garoa Wealth Management, estima que o petróleo pode chegar US$ 90 por barril caso a guerra imploda por todo o Oriente Médio. Segundo o especialista, a costa iraniana é uma das controladoras do estreito de Ormuz, local em que quase 25% da oferta global de petróleo é escoada. Ou seja, caso o país decida travar a região, a commodity pode subir ainda mais no mercado global.
Em meio a esse cenário, Camargo Luiz diz que a empresa mais beneficiada seria a PetroReconcavo (RECV3), pois o custo de extração da companhia é o menor do mercado (próximo de US$ 12 por barril). “Com barril acima de US$ 90, o lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização (Ebitda) cresce aceleradamente, com geração de caixa robusta e margem altamente expandida — tudo isso com múltiplos e preços descontados”, explica Camargo Luiz.
Artur Horta, da GTF Capital, aponta a Petrobras (PETR4) pode ser outra companhia beneficiada. Para ele, o papel está atrativo para o investidor devido ao seu potencial de pagamento de dividendos e ao preço descontado que o ativo oferece em meio à escalada do preço do petróleo no mercado internacional.
Na visão dos analistas da Genial Investimentos, a PRIO (PRIO3) é a melhor ação do setor petroleiro para ter na carteira agora. Eles comentam que 100% das receitas da empresa estão expostas à produção de petróleo, com custos de extração muito baixos.
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“É importante mencionar que a aquisição do Campo de Peregrino ainda não foi 100% consolidada pela empresa, mas a geração de caixa da fatia de 60% até a sua conclusão já pertence à empresa e tal valor deve ser descontado do preço a ser pago pela Prio no momento em que a aquisição for concluída”, explicam os analistas. A Genial tem recomendação de compra para PRIO com preço-alvo de R$ 69,00 para o fim de 2025, alta de 59,64% na comparação com o fechamento de quinta-feira (12), quando a ação encerrou o pregão a R$ 43,22.
Ainda que existam ações preferidas para ter na carteira, a parcimônia é o que deve dominar a mente do investidor. Hudson Bessa, especialista em mercado financeiro da Fundação Instituto de Pesquisas Contábeis, Atuariais e Financeiras (Fipecafi), explica que o cenário global ainda é muito incerto, tanto por causa da guerra no Oriente Médio quanto pela guerra entre Rússia e Ucrânia, além de uma guerra tarifária entre Estados Unidos e China.
“Sendo assim, o investidor deve considerar seu perfil de investimento e ver se essas escolhas fazem de fato sentido para sua carteira, pois nada está imune aos retrocessos. O pior a ser feito é mudar posições no mercado acionário a cada novo fato na ordem mundial, como uma possível guerra entre Israel e Irã. O melhor é definir uma estratégia adicionada ao risco e segui-la no longo prazo”, conclui Bessa.